Crédito: Instagram de Nina Carlson (@ninacarlson)

O veganismo, basicamente, consiste em dispensar o consumo de qualquer produto de origem animal. Mas se você pensa que isso não combina com musculação, saiba que está muito enganado. Nina Carlson, de 29 anos, é capaz de nos provar que é possível abrir mão de proteínas de origem animal sem afetar de forma negativa seu desempenho na academia.

Aos 13 anos, Nina tornou-se vegetariana e, aos 18, mergulhou no veganismo por não tolerar a exploração animal. Fisiculturista e graduada em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), hoje ela estuda Educação Física visando trabalhar como personal trainer.

A paulistana que mora em Sorocaba-SP concilia sua rotina vegana com a musculação desde 2014. Em entrevista exclusiva ao Esporte Fitness, Nina fala sobre suas transições alimentares e seu estilo de vida. Confira:

Como foi seu processo de transição para virar vegana?
“Parei de comer carne quando eu tinha 13 anos, depois de ver o clipe de uma banda que mostrava cenas de um matadouro. Além disso, a letra da música me impactou bastante (Makazumba – Inocência). Naquela época, eu não tinha tanto acesso à informação e achava que só isso bastava. Porém, conforme o tempo foi passando, percebi que apenas não comer carne não era o suficiente para ser coerente com aquilo que eu defendia. Então eu virei vegana aos 18 anos. Foi tranquilo, porque no decorrer desse tempo fui acumulando conhecimento sobre veganismo e aprendendo receitas.”

Quais são os primeiros passos para quem quer parar de comer carne?
“Acredito que seja a informação. Buscar entender como é o processo de produção e tudo o que ele envolve. Se a pessoa não tem uma boa noção sobre alimentação, acho legal procurar um nutricionista que a apoie, até pra fazer uns exames de sangue e ver se é necessário suplementar algo, como a B12, que pode estar deficiente tanto em veganos quanto em não veganos.”

O que você faz para suprir a proteína?
“Atualmente eu recorro somente à alimentação. Consumo, principalmente, os mais diversos derivados de soja, além de grão-de-bico, sementes de abóbora e girassol, ervilha, amendoim e chia. São ótimas opções para veganos. Porém, já recorri à proteína em pó em determinadas épocas, assim como qualquer outro atleta recorre, dependendo da fase e estratégia.”

O equilíbrio entre uma dieta rigorosa e a prática intensa do esporte pode virar um problema?
“Alimentação e treino devem estar muito bem ajustados. Por isso, recomendo sempre que as pessoas procurem profissionais de nutrição e educação física. Quando fazemos uma dieta muito restrita, por exemplo, ficamos mais fracos. O ritmo dos treinos deve acompanhar a dieta para que o atleta não se lesione nesse processo.”

Você tem um acompanhamento de um nutricionista para ser uma atleta vegana?
“Nunca fui a um nutricionista. Eu tenho uma boa noção de nutrição graças a minha vivência no esporte, mas não recomendo que as pessoas façam isso por conta própria.”

Quando decidiu ser fisiculturista? Quais são suas referências no esporte?
“Quando comecei a treinar, eu não tinha essa pretensão. Comecei a treinar mais pelo bem-estar que isso me proporcionava. Mas comecei a ter alguns resultados visíveis e as pessoas ao meu redor ficaram surpresas, o que me fez pensar nessa possibilidade como forma de ativismo. A minha maior referência de atleta vegano de fisiculturismo é o Torre Washington.”

Qual a principal dificuldade em ser atleta vegana?
“Acho que não há nenhuma dificuldade em ser atleta vegana especificamente, e sim em ser atleta. É necessário ter disciplina, foco, persistência, determinação. Poucas pessoas estão dispostas a tudo o que isso envolve.”

Você já teve que lidar com algum tipo de preconceito?
“Muitas pessoas não acreditaram em mim, diziam que eu nunca conseguiria desenvolver meu físico sendo vegana e natural. Já não me levaram a sério também, acredito que por eu ser mulher, principalmente. Além disso, já recebi muitas críticas nos mais diversos momentos, quando eu estava muito seca, quando estava muito grande. É complicado, mas temos que aprender a lidar com as críticas, porque independente do que a gente faça e como a gente seja, sempre vai ter alguém pra criticar.”

Quais são as principais vantagens de ser vegana?
“Acho que o fato de eu ter uma recuperação pós-treino muito boa e quase nunca ficar doente, graças a eu ser vegana e me alimentar bem, o que não é regra entre os veganos. Mas a coisa mais importante pra mim é estar em paz com a minha consciência em relação aos animais.”

Em seu perfil, você dá diversas dicas de comidas veganas. Qual feedback você recebe dos seguidores?
“Em geral é bom, mas até em relação a isso eu recebo algumas críticas. O que importa é que a mensagem está sendo passada.”

Segundo o Ibope, o número de vegetarianos no Brasil dobrou em 6 anos e chega a 29 milhões de pessoas hoje. Você vê isso como um movimento natural?
“Eu acho que isso é uma tendência, sim. O acesso à informação simplifica o processo.”

Qual é o seu treino favorito e qual é aquele que você tem que se dedicar mais para ver resultados?
“Eu não consigo dizer qual é o favorito e qual eu me dedico mais, porque eu me dedico e gosto igualmente de todos.”

Pretende competir algum dia?
“Eu já competi em 2017, quando tinha menos de três anos de treino, o que é muito pouco para uma fisiculturista natural. Hoje, eu vejo que me precipitei, mas serviu de aprendizado. Não sei se competirei novamente, isso só o tempo irá dizer.”

Qual é o sentimento de inspirar tantas pessoas com os seus posts?
“É muito gratificante quando alguém vem me dizer que virou vegano ou que pelo menos mudou sua forma de enxergar alguma questão por se inspirar nos meus posts. A sensação é de dever cumprido.”

Quais são seus planos para o futuro?
“Pretendo continuar fazendo o que faço: treinando, estudando e tentando a cada dia ser uma pessoa melhor.”

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